quarta-feira, 28 de julho de 2010

Agulhas

`naquele oceano
de palavras,
quis aportar em ti.`

Às vezes o mar suplanta a dor, sem mais, nos perdemos num vazio de águas. Quem sabe a praia em que repouso, depois de tanto nadar, abrace-me como a acariciar os sentimentos cujos reflexos d’alma são retratados por palavras, num velho diário de bordo? Quem sabe se me escrevo nas rochas, ou ainda, quem sabe não sou a própria rocha, que recebe as pancadas desse oceano desigual? Sabe-se lá se não sou o cacto que armazena a chuva a fim de, na seca, suportar a sede? Talvez eu seja algo de inalcançável a mim mesma. Ou, serei a ausência de silêncio?
Com essas analogias, retiro-me dos escombros e ressurjo majestosa no centro de uma selva de pedra ou mesmo na esfera de um cascalho interiorano, às margens vazias e pardacentas do “adormecido” rio Seridó. Se possível, desperto esse rio que dorme em mim e abundo em solo pátrio, levantando a poeira qual Saci, dos contos de “enganamentos” infantis.
Há certas horas que as almas sertanejas ecoam o cântico da solidão-presente, numa solitude apregoada de reminiscências. Renascem as almas bem no cume da dor, no ápice da saudade-angústia.
Pensei, dias outros, tão miúdos e amiúde, que aportar em ti seria a chegada, o ponto cheio da agulha que sibila no retalho de chita. Seria a conclusão do esboço, a tessitura, a forma... porém, nem todos os oceanos são navegáveis e o mar, salinizado e sem dó, massacra o amor. Porém, nem toda fissura da trama do tecido, tem a agulha que merece, visto que a ponta que penetra o algodão do meu pano de saco é, deveras, aguda e, ao contrário da lâmina que parte os lírios, perfura-me como a se cravar inteira no meu oceano de inquietude.
Mas, a escuridão noturna, companheira das sombras, perde-se entre as efemérides. O sol dá o seu ar de bem-vindo e, embora descanse ao fim da tarde, volta na manhã do novo dia, num ciclo de paciência solar e não me permite que ‘naquele oceano de palavras, eu aporte em ti’.


Maria Maria

2 comentários:

  1. Parabéns pelo blog, Maria, sucesso!!!
    bjs

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  2. Marré,
    Adorei a profundidade do texto, humildemente alcançada por um seridoense da gema do xique-xique.
    Um beijão e sucesso.
    Adelson

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Água de chocalho para todos!