segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sentimentos de Amarílis

Há uma fragilidade voando feito folha seca pelo ar. Se há primavera, eu não sei. Sei apenas que estou mudando de pele como cobras sibilantes, embora tenha medo de cobras. É assim que me sinto nesse tempo de flor escondida ou flor que não desabrochou ou ainda, flor que espera seu tempo. Há anos não me apaixono por alguém, nem sinto o fogo, o desejo, o entusiasmo pelo outro. Nunca mais beijei uma boca de beijo bom. Isso me deixa diferente do que sou e penso que não estou mais anfitriã de mim mesma. Minha casa, meu porto seguro matinal, só ouve as minhas falas e meus questionamentos. Não sei em qual dimensão me encontro agora. No calendário real estou vivendo em fins de setembro deste século vinte e um, porém no meu universo paralelo e atemporal vivo indefinida como a dor de estar só. Pareço-me a folha de uma árvore asiática que vem cruzando ventos e cortando brisas para este continente tão americanamente fugaz. O que me acalma e me mantém sóbria é o cheiro de algaroba quando o redemoinho atravessa meu quintal e deixa todo telhado em cio de gata ou logo que a manhã nasce seridoana com seu aroma sertanejo de gado berrando. Enfim, mantenho-me à espera de um tempo acigânico onde eu possa envelhecer soberana e feliz.

Maria Maria