Há uma fragilidade voando feito folha seca pelo ar. Se há primavera, eu não sei. Sei apenas que estou mudando de pele como cobras sibilantes, embora tenha medo de cobras. É assim que me sinto nesse tempo de flor escondida ou flor que não desabrochou ou ainda, flor que espera seu tempo. Há anos não me apaixono por alguém, nem sinto o fogo, o desejo, o entusiasmo pelo outro. Nunca mais beijei uma boca de beijo bom. Isso me deixa diferente do que sou e penso que não estou mais anfitriã de mim mesma. Minha casa, meu porto seguro matinal, só ouve as minhas falas e meus questionamentos. Não sei em qual dimensão me encontro agora. No calendário real estou vivendo em fins de setembro deste século vinte e um, porém no meu universo paralelo e atemporal vivo indefinida como a dor de estar só. Pareço-me a folha de uma árvore asiática que vem cruzando ventos e cortando brisas para este continente tão americanamente fugaz. O que me acalma e me mantém sóbria é o cheiro de algaroba quando o redemoinho atravessa meu quintal e deixa todo telhado em cio de gata ou logo que a manhã nasce seridoana com seu aroma sertanejo de gado berrando. Enfim, mantenho-me à espera de um tempo acigânico onde eu possa envelhecer soberana e feliz.
Maria Maria