sábado, 2 de outubro de 2010

Chuvas: Bom ou mal tempo?

 
Quando éramos crianças, brincávamos de poças de chuvas, de açudes construídos com nossas mãos pueris, com jogos de pedrinhas certeiras nas águas que desciam dos olhos de Deus.
 Época em que as chuvas eram definidas pelos meses. Se não me engano, fevereiro (mês das frutas doces), março e abril. Os meses que se seguiam eram de frio intenso até agosto que já se preparava para a “nossa” primavera. Era uma primavera tão possessiva porque Bom-dia e Boa-noite nos saudavam todos os dias pelos terreiros da pacata cidade e por isso, era absolutamente “nossa”, sem analogia a países europeus.
Interessante! Tudo tinha gosto de alegria quando a chuva chegava à região do Seridó. O que era de vida se enfeitava e as tardes familiares, os banhos de chuva nas biqueiras das lojas na Praça Tomaz Salustino e ruas do centro de Currais Novos representavam momentos singulares a todos e a cada um de acordo com a sua perspectiva.
Ao longo dos anos, percebo que o tempo se configura de forma diferente. O nosso bom tempo é aquele em que as nuvens cúmulos-nimbos se engravidam para derramar sobre nós as bênçãos dos céus, ao contrário de outras regiões, onde esse tempo de chuvas é considerado mau tempo. Enfim, a chuva no Sertão seridoense é a esperança de um povo vigoroso.
"O sertanejo é antes de tudo um forte". Citação de Euclides da Cunha em seu famoso livro "Os Sertões. A verdade é que a fortaleza desse homem do campo não se encontra apenas na força física, mas na religiosidade, na fé em São José e em Sant`Ana e na resiliência, termo que a psicologia tomou emprestado da física, definindo-a como a capacidade do indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse, etc.
Apesar do aquecimento global, do efeito estufa e das ações antropogênicas (provocadas pelo homem), além de outros fatores que vêm causando ruínas e alterações no eixo da terra e em toda a sua extremidade, sentimos a dor daqueles que perderam as famílias em terremotos, em cidades próximas a vulcões em erupção. Mesmo assim, a chuva é fundamental para a produção de alimentos que beneficiarão tanto o homem do campo quanto o da cidade, a flora e a fauna sertanejas.
O tempo e as suas transformações climáticas não trarão as mesmas sinestesias: o cheiro, o som, a voz e visão daquelas tardes de chuva, porque como disse Heráclito de Éfeso "Um homem não entra duas vezes no mesmo rio. Da segunda vez não é o mesmo homem nem o mesmo rio". É claro que as emoções não se repetem, elas chegam de modos diferentes, nós as sentimos com um olhar novo, com um coração esperançoso de que o inverno nos trará sempre as boas novas, nos trará abundância e fartura na mesa do nosso povo.
E assim, caminhando por esse século de tecnologia avançada, de velocidade, de inovações agrícolas, de descobertas científicas e de questionamentos, o povo que ama a sua terra espera, ansioso, por um era de boa-venturança, de alegrias, paz e fertilidade no chão dos índios cariris.
 
 
Por Maria Maria
Escritora e Poeta