A
validade dos sentimentos
Ler é cultivar ideias! Foi
o que pensei ao finalizar a leitura de um livro “quase” de auto-ajuda. Não é
bem o meu estilo de leitura e nem se trata de um manual que orienta o seu modo
de viver. Enfim, esse pequeno, de folhas amareladas, me fez repensar algumas situações
da vida, abrir minhas compotas e deixar a força da correnteza carregar velhos
lixos sociais incongruentes com o meu pensar e agir de hoje.
Reparei, à medida que o
lia, o quanto os sentimentos são relevantes, não tanto pela força da correnteza
anterior saída da minha represa, mas pela validade que eles possuem em nossas
vidas.
Amor tem data de
fabricação e lote, tem recomendações de como vivê-lo, dá um efeito imediato de
euforia quando adoçado com paixão, levanta a nossa auto-estima e nos ajuda a
esculpir outra figura dentro de nós, escova o ego e revitaliza o coração-que já
se esquecera da dor passada-, faz um rebuliço danado em nós e nos outros.
Todavia, convenhamos, “... por ser amor invade e fim?”
O amor tem data de
validade, mas essa informação tão necessária, não vem nos rótulos que são
oferecidos pelo mundo. A embalagem, às vezes, tem algo escamoteado, ambíguo e
incoerente. Não há, na parte exterior, nenhum texto injuntivo, norteando a
dosagem. Nós o usamos, em demasia, por conta própria, sem medida.
Quando percebemos, já
estamos dependentes e, absolutamente, desapropriados de nós mesmos. É assim o
amor: subversivo, deselegante, invasivo, autoritário e com certa dose de
rebeldia.
Vi situações distintas
sobre relações humanas, nesse livro devorado em poucos dias, e cheguei à conclusão
de que os outros amores, a exemplo do amor bíblico bem apresentado em Corintos,
versículo 13, tão generoso, manso e humilde, é o lado herói desse sentimento.
Acontece que não vivemos em uma sociedade sem riscos e perdas, conhecemos o
amor como algo que nos descompromete de nós mesmos, desempactando os poderes
guardados nos confins de nossos eus. Só o amor desinteressado possui as
qualidades citadas no maior livro cristão.
Hoje, o amor perdeu-se
em si mesmo. É o anti-herói do mundo moderno e já está, para mim, com data de
validade vencida. Outro tipo de sentimento pode até substituí-lo; só a título
de sugestão, quem sabe a parceria entre respeito e solidariedade possa
tornar-se o mel, que, segundo a ciência, é o único alimento que não vence
jamais.
Depois de tudo dito, já
fiz a minha escolha pelos próximos zilhões de anos: vou optar pelo mel, o que
vier de sobra vai para o espaço se transformar em aurora boreal.
Maria Maria