terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Doce beijo Seridó



Há sempre um Seridó doce em meio ao sol que incendeia, ateando fogo nas serras, mas há, sobretudo, um fio de água feito beijo doce que vai – bálsamo – pela alma de quem chora à tarde.
Sem receitas e sem moldes o Seridó se contorna de um verde singularmente verde, perceptível apenas com os olhos subjetivos de quem ama. A terra, que outrora amanhecia em desalinho, engravida-se de si mesma e faz do tempo seu aliado mais gentil. É felina e produtiva, arrebitada e sã. Remove montanhas de vegetação esquelética, aquém do Renascimento, onde a abundância das fêmeas eram estereótipos de beleza. Mas, longe dos Renascimentos e estéticas, o chão arenoso e pálido ganha cor de força e vida, de amarelo e ouro. E eu, somente poeta, de asas de cera (feito Ícaro) extasio-me de paz e de enamoramento. E eu, que pouquíssimo entendo de números em pluviômetros, de dimensões quilométricas, procuro quebrar o escalímetro, entendo apenas (e pouco) de sentimentos desnorteados ou mesmo de infância. Sim, talvez de infância eu possa dizer mais os meus dizeres. Que eu os diga, mas de forma poética. Não quero minhas dores reveladas, pois nem todos os ouvidos e olhos entendem a fala dos meus dedos. Sentir agora o novo me entusiasma, a fruta madura e docemente mel a ser degustada a cada momento em que o amor me bate à porta e me deseja como fruta em sua mesa. Quero experimentar a apoteose dos tempos vindouros com a serenidade das folhas esverdeadas da algaroba ou mesmo com o viço das felinas em chama. Ou, quem sabe, com um silo de poesia armazenado para o inverno. Não me inveja a formiga e a cigarra, ambas cantam na mesma intensidade e no mesmo tom: o do equilíbrio entre a menina e a mulher.



Maria Maria