terça-feira, 18 de setembro de 2012

UM ENCONTRO NA REDE



No meio da tarde, quando o efeito tyndall adentrava a lateral da minha sala de estar, pus em prática o meu costumeiro jeito índio de sentar-me diante do computador.
            Acionei os botões que o colocava em funcionamento, enquadrei a cadeira no assoalho, entre um mosaico e outro, e dispus as nádegas numa cômoda posição, de forma, eu diria, erótica.
            Esperei, tranqüilamente, as janelas cibernéticas se descortinarem a minha frente, enquanto um simpático programa de comunicação instantânea saudava-me com um “oi!”. Respondi , de imediato, aquele apelo de praxe e retruquei um outro “oi?” desconcertado e interrogativo, por não reconhecer o endereço eletrônico de quem “navegava” do outro lado.
            Encetamos o diálogo simbólico com assuntos incomuns (para mim), pois o digitador com quem falava tecia comentários sobre armas nucleares. E esta não era uma boa deixa para principiar um diálogo informal, em se tratando de rede de comunicação virtual cujo propósito é estimular a busca por novos amigos.
            O assunto fluiu diferente, logo que comentei, sem nenhuma intenção, que o calor do Nordeste chegava a quase 40 graus. O homem, sem identidade definida, perguntou-me o que eu fazia para resistir à alta temperatura da região. E, sem pestanejar, pois considero a nudez natural, respondi: “se o tempo se faz quente, tiro a roupa, viro índia”. Ele riu da situação com os símbolos: “rsrsrsrsrsrsrs” e arriscou um bom comentário: “você deve se sentir livre sem roupa, não é?”
            Não me importando e até considerando interessante a temática, incitei a conversa, dizendo que as peças que me cobriam, naquele momento, se espalhavam pelo tapete, poltrona ou chão. Ele, surpreso, com a resposta, escreveu um “nossa!!!!” carregado de exclamações como a me dizer que tomara um choque, no bom sentido, é claro!
            No meio da comunicação, ele foi me provocando com expressões pouco sutis e eu, que não vejo maldade em certas coisas, e adorando a libidinagem verbal, retribuí com frases picantes.
            De repente, minhas partes íntimas começavam a molhar-se a cada palavra obscena digitada naquela máquina pálida que, diante de mim, figurava a idéia de realidade. Perguntei-lhe o nome; Eros, respondeu. E o seu? Helena. Não a de Tróia, naturalmente. O diálogo febril esfriou um pouco nesse momento de apresentação informal, contudo não apagou o fogo que crepitava nas vias cibernéticas, pois o outro me dizia que seu pênis queria saltar da calça e que precisava disfarçar.
            A conversa digitalizada ganhava de presente inúmeras reticências. Parei por alguns instantes para prender os cabelos, pois os fios, já úmidos do calor destas estâncias seridoenses, se misturavam no meu pescoço, causando um certo incômodo. Então eu os amarrei num gesto quase sensual e ao mesmo tempo mecânico.
            O cavalheiro, de pseudônimo Eros, confessou-me estar num local inapropriado para aquela atividade de cunho ou “punho” sexual, pois havia outros navegadores por ali e, portanto, seria uma indelicadeza de sua parte sair do ambiente, com o pênis ereto, mas que se deslocaria ao banheiro e logo retornaria à conversa.
            Enquanto ele se organizava, eu tecia a seguinte cena:
            “Ele entrou no banheiro, abriu o zíper e me imaginou índia. Talvez uma daquelas de cabelos negros-azulados e de peitos redondos, sem pêlos e olhos expressivamente ambíguos”.
Pensei ainda que a imagem construída de mim ganhara um arquivo na pasta ‘meus documentos’cujo título seria: ‘top secret’. Ou, na pior das hipóteses, vamos para o ‘lixo eletrônico’.
            Ele voltou. Desta vez tácito como se sentisse um certo alívio. Dirigiu-se a mim, dizendo; “olá, querida”, justamente na hora em que uma pane nas conexões apagou a minha resposta. E eu, meu caro leitor, fiquei entre o silêncio e a vontade de falar. A ligação não foi restabelecida, o sinal resolveu ocultar-se nas esferas celestiais e, enquanto o sistema voltava, meu marido chegou. Sem que ele percebesse, fui ao banheiro e me vesti. Tudo acabou em segundos, da mesma forma como começou, porém, ainda há um dado importante: meu marido resolveu tomar banho e eu o ajudei a esponjar as costas. Nessa brincadeira “infantil” dançamos em volta da fogueira, naquele espaço estreito tornando-nos índios verdadeiros.

Maria Maria Gomes

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Água de chocalho para todos!