Há uma fragilidade voando feito folha seca pelo ar. Se há primavera, eu não sei. Sei apenas que estou mudando de pele como cobras sibilantes, embora tenha medo de cobras. É assim que me sinto nesse tempo de flor escondida ou flor que não desabrochou ou ainda, flor que espera seu tempo. Há anos não me apaixono por alguém, nem sinto o fogo, o desejo, o entusiasmo pelo outro. Nunca mais beijei uma boca de beijo bom. Isso me deixa diferente do que sou e penso que não estou mais anfitriã de mim mesma. Minha casa, meu porto seguro matinal, só ouve as minhas falas e meus questionamentos. Não sei em qual dimensão me encontro agora. No calendário real estou vivendo em fins de setembro deste século vinte e um, porém no meu universo paralelo e atemporal vivo indefinida como a dor de estar só. Pareço-me a folha de uma árvore asiática que vem cruzando ventos e cortando brisas para este continente tão americanamente fugaz. O que me acalma e me mantém sóbria é o cheiro de algaroba quando o redemoinho atravessa meu quintal e deixa todo telhado em cio de gata ou logo que a manhã nasce seridoana com seu aroma sertanejo de gado berrando. Enfim, mantenho-me à espera de um tempo acigânico onde eu possa envelhecer soberana e feliz.
Maria Maria
Quando eu era criança, no Seridó, a minha infância tinha a singularidade que têm todas as infâncias. Havia mitos e lendas, histórias criadas pelas gerações antepassadas e histórias recriadas. Uma delas, era a de que beber Água de Chocalho apressava a fala das crianças. Eu devo ter bebido desse licor adoçado com açúcar e serenado pela lua. Talvez por isso, goste tanto de conversar e também de ficar acordada a noite inteira pensando em girassóis e girassóis.
Marré, o contexto descrito inclui este "personagem" que vos fala. Ou seja, você não está sozinha nesse pequeno universo seridoano...Arrasou!
ResponderExcluirVocê está cada vez melhor.
Grande beijo,
Adelson
Mulher Fatal..
ResponderExcluirAdorei o pequeno texto.. principalmente trantando da nossas terras os constumes..
Gostei também desse pequeno trecho, que pouco me identifiquei:
"Há anos não me apaixono por alguém, nem sinto o fogo, o desejo, o entusiasmo pelo outro. Nunca mais beijei uma boca de beijo bom."
Parabéns!!
Um beijo imprestável.
um texto bonito, escreves com uma doçura!!!!!
ResponderExcluirabraços poéticos
oreny júnior